Associação entre Equidade de Gênero na Família e Intenções de Fecundidade: Uma Análise do Contexto Brasileiro com Machine Learning

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0299

Palavras-chave:

Intenções, Fecundidade, Equidade, Gênero, Família, Brasil, Machine Learning

Resumo

A literatura sobre equidade de gênero e fecundidade propõe uma curva em U para explicar a relação entre essas variáveis. À medida que as mulheres alcançam maior equidade na esfera pública (educação e trabalho), seus custos de oportunidade aumentam, o que, somado à responsabilidade quase integral pelo trabalho doméstico, reduz suas intenções reprodutivas e a fecundidade. Para reverter essa tendência de queda, seria necessária maior equidade na esfera privada da família, com maior participação masculina nas tarefas domésticas. Diversos estudos já investigaram essa associação positiva entre equidade de gênero na família e fecundidade ou intenções de fecundidade em países de alta renda e baixa fecundidade, contexto para o qual o modelo teórico foi desenvolvido. No entanto, há escassez de estudos sobre essa relação em países de renda menor, mas também de baixa fecundidade, como o Brasil. Este estudo é pioneiro ao investigar, no nível micro, a associação entre equidade de gênero na família e intenções de fecundidade no Brasil. Dada a inexistência de uma fonte de dados nacionalmente representativa que inclua ambas as variáveis de interesse, a estratégia analítica inclui a combinação de dados da PNDS de 2006 e das PNADs de 2006 e 2015 e o uso de métodos de machine learning para calcular a probabilidade predita de intenção de ter o segundo filho. A partir desta variável proxy, foi ajustada uma série de modelos e, de forma geral, os resultados sugerem uma relação negativa e, portanto, contrária ao arcabouço teórico. Uma possível explicação para estes resultados considera a discussão acerca da forma de operacionalização das variáveis. Alternativamente, discute-se que o relativo atraso do Brasil na primeira fase da revolução de gênero, isto é, na promoção de equidade na esfera pública, pode também explicar a associação negativa observada no contexto brasileiro.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Victor Leocádio, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pesquisador Visitante no Federal Institute for Population Research (BiB) - Alemanha. Realizou Doutorado Sanduíche no Netherlands Interdisciplinary Demographic Institute (NIDI) - Holanda. Mestre em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bacharel em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro (FJP). Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) em exercício na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas
Gerais (SEJUSP). Suas principais linhas de pesquisa estão centradas em estudos demográficos, com ênfase em fecundidade e sua interconexões com família e escolaridade. Além disso, se interessa e desenvolve pesquisas em temas relacionados a envelhecimento, desigualdades de saúde e raça, religião, conjugalidade, bem como Machine Learning e ciência de dados com programação em R.

Ana Paula Verona, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001), mestrado em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004) e doutorado em Demografia/Sociologia - The University of Texas at Austin (2010). Atualmente é professora associada II e Pesquisadora do Cedeplar/UFMG. Áreas de interesse: Fecundidade, Saúde Reprodutiva, Nupcialidade, Religião e Demografia das populações indígenas

Simone Wajnman, Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais

Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983), mestrado em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1989), doutorado em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e estágio pós-doutoral na Universidade de Princeton (2001-2). Aposentou-se como professora Titular do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais em outubro de 2020 e atua como professora voluntária do mesmo departamento e pesquisadora do Cedeplar/UFMG. Já coordenou o Programa de Pós-graduação em Demografia do CEDEPLAR/UFMG e foi secretária e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP). Foi representante da área de Demografia no Comitê de Assessoramento de Ciências Sociais Aplicadas do CNPq até junho de 2017. Foi editora da Revista Brasileira de Estudos de População (REBEP) no período de janeiro de 2017 a janeiro de 2019. Atua principalmente nos seguintes temas: demografia da família, análise da dinâmica demográfica, demografia econômica e participação feminina no mercado de trabalho.

Referências

ARPINO, B.; ESPING-ANDERSEN, G.; PESSIN, L. How do changes in gender role attitudes towards female employment influence fertility? A macro-level analysis. European Sociological Review, v. 31, n. 3, p. 370-382, 2015.

ATAKE, E.; ALI, P. G. Women’s empowerment and fertility preferences in high fertility countries in Sub-Saharan Africa. BMC Women’s Health, v. 19, n. 1, p. 1-54, 2019.

BARBOSA, A. L. N. H. Tendências nas horas dedicadas ao trabalho e lazer: uma análise da alocação do tempo no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 2018. (Texto para Discussão, n. 2416).

BECKER, G. S. A treatise on the family. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1981.

BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher - PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Série G. Estatística e Informação em Saúde).

BRUCE, P.; ANDREW, B. Practical statistics for data scientists. Sebastopol: O’Reilly Media, 2017.

COUTINHO, R.; GOLGHER, A. Modelling the proximate determinants of fertility for Brazil: the advent of competing preferences. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 35, n. 1, 2018.

DOMMERMUTH, L.; HOHMANN-MARRIOTT, B.; LAPPEGÅRD, T. Gender equality in the family and childbearing. Journal of Family Issues, v. 38, n. 13, p. 1803-1824, 2017.

DUVANDER, A. Z.; LAPPEGÅRD, T.; ANDERSEN, S. N. Parental leave policies and continued childbearing in Iceland, Norway, and Sweden. Demographic Research, v. 40, p. 1501-1528, 2019.

ERFANI, A.; PILON, L. Gender equality in the division of housework and fertility intentions in Canada: the moderating effect of employment and education. Journal of Family Issues, v. 0, n. 0, 2024.

ESCOVEDO, T.; KOSHIYAMA, A. Introdução a data science - algoritmos de machine learning e métodos de análise. São Paulo: Ed. Casa do Código, 2020.

ESPING-ANDERSEN, G.; BILLARI, F. Re-theorizing family demographic change. Population and Development Review, v. 41, n. 1, p. 1-31, 2015.

GREENSTEIN, T. N. Economic dependence, gender, and the division of labor in the home: a replication and extension. Journal of Marriage and the Family, v. 62, p. 322-225, 2000.

GOLDSCHEIDER, F.; BERNHARDT, E.; LAPPEGÅRD, T. The gender revolution: a framework for understanding changing family and demographic behavior. Population and Development Review, v. 41, n. 2, p. 207-239, 2015.

HAN, S. W.; GOWEN, O.; BRINTON, M. C. When mothers do it all: gender-role norms, women’s employment, and fertility intentions in post-industrial societies. European Sociological Review, v. 40, n. 2, p. 309-325, 2024.

HONG, S. H. The effects of female labor force participation, family policies, and gender equality on fertility rate: Focused on OECD countries. Korean Family Resource Management Association, v. 25, n. 2, p. 41-52, 2021.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9127-pesquisa-nacional-por-amostra-de%20domicilios.html?=&t=o-que-e Acesso em: 17 abr. 2024.

» https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9127-pesquisa-nacional-por-amostra-de%20domicilios.html?=&t=o-que-e

JAMES, G.; WITEN, D.; HASTIE, T.; TIBSHIRANI, R. An introduction to statistical learning: with applications in R. Berlin: Springer, 2014.

KOLPASHNIKOVA, K.; KAN, M. Y. Housework participation and fertility intentions: analysing the gendered division of labour and fertility in Taiwan. In: KAN, M.-Y.; BLAIR, S. L. (Ed.). Chinese families: tradition, modernisation, and change. Emerald Publishing Limited, 2021. p. 141-156.

KOSTER, T.; POORTMAN, A. R.; VAN DER LIPPE, T.; KLEINGELD, P. Fairness perceptions of the division of household labor: housework and childcare. Journal of Family Issues, v. 43, n. 3, p. 679-702, 2021.

LAPPEGÅRD, T.; NEYER, G.; VIGNOLI, D. Three dimensions of the relationship between gender role attitudes and fertility intentions. Genus, v. 77, n. 15, p. 1-26, 2021.

LEE, R. Becker and the demographic transition. Journal of Demographic Economics, v. 81, n. 1, p. 67-74, 2015.

LEOCÁDIO, V.; VERONA, A. P.; WAJNMAN, S. A review of research of the relationship between gender equity and fertility in low-fertility settings. Journal of Population Research, v. 42, n. 1, 2025.

LEOCÁDIO, V.; VERONA, A. P.; WAJNMAN, S. Exploring the association between gender equality in the family and fertility intentions: an explanation of the findings in low-fertility countries. Genus, v. 80, Article 26, 2024.

LEOCÁDIO, V.; VERONA, A. P.; WAJNMAN, S. Intenções de fecundidade: uma revisão da literatura acerca da variável em países de renda alta e no Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 40, p. 1-32, 2023.

LIEFBROER, A. C. Changes in family size intentions across young adulthood: a life course perspective. European Journal of Population, v. 25, n. 4, p. 363-386, 2009.

LONGO, L. A. F. B. Uniões intra e interraciais, status marital, escolaridade e religião no Brasil: um estudo sobre a seletividade marital feminina, 1980-2000. 2011. 299 f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

MCDONALD, P. Gender equity in theories of fertility transition. Population and Development Review, v. 26, p. 427-439, 2000a.

MCDONALD, P. Gender equity, social institutions and the future of fertility. Journal of Population Research, v. 17, p. 1-16, 2000b.

MENCARINI, L. Does gender equality affect fertility decisions in Europe? In: GAUTHIER, A. G.; KOTOWSKA, I.; VILHENA, D. (Ed.). Gender (in)equality over the life course: evidence from the Generations & Gender Programme. Population Europe, Generations and Gender Programme (GGP), 2018. (Discussion Paper, n. 10).

MIETTINEN, A.; BASTEN, S.; ROTKIRCH, A. Gender equality and fertility intentions revisited: evidence from Finland. Demographic Research, v. 24, p. 469-496, 2011.

MORGAN, S. P. Is low fertility a Twenty-First-century demographic crisis? Demography, v. 40, n. 4, p. 589-603, 2003.

OSGOOD, D. W. Poisson-based regression analysis of aggregate crime rates. Journal of Quantitative Criminology, v. 16, p. 21-43, 2000.

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Gender Inequality Index. Disponível em: https://hdr.undp.org/data-center/thematic-composite-indices/gender-inequality-index#/indicies/GII Acesso em: 5 fev. 2024.

» https://hdr.undp.org/data-center/thematic-composite-indices/gender-inequality-index#/indicies/GII

PORTACCIO, M. E. A. Efecto de la división del trabajo doméstico no remunerado (TDNR), del trabajo de cuidado no remunerado (TCNR) y de las actitudes de género sobre las preferencias de fecundidad de las mujeres en Colombia. 2019. 209f. Tese (Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2019.

RAYBOULD, A.; SEAR, R. Children of the (gender) revolution: a theoretical and empirical synthesis of how gendered division of labour influences fertility. Population Studies, v. 75, n. 2, p. 169-190, 2021.

RÉGNIER-LOILIER, A. Influence of own sib ship size on the number of children desired at various times of life: the case of France. Population (english edition), v. 61, n. 3, p. 165-194, 2006.

SOBOTKA, T.; BEAUJOUAN, E. Two is best? The persistence of a two-child family ideal in Europe. Vienna Institute of Demography, 2014. (Working Papers, 3).

STEFANI, S.; PRATI, G. Gender ideology and fertility: evidence for a curvilinear hypothesis. The Journal of Social Psychology, v. 164, n. 3, p. 280-292, 2024.

SULLIVAN, O.; GERSHUNY, J.; ROBINSON, J. P. Stalled or uneven gender revolution? A long-term processual framework for understanding why change is slow. Journal of Family Theory & Review, v. 10, n. 1, p. 263-279, 2018.

TORR, B. M.; SHORT, S. E. Second births and the second shift: a research note on gender equity and fertility. Population and Development Review, v. 30, n. 1, p. 109-130, 2004.

WESTOFF, C.; HIGGINS, J. Relationships between men’s gender attitudes and fertility: response to Puur et al.’s “Men’s childbearing desires and views of the male role in Europe at the dawn of the 21st century”. Demographic Research, v. 21, n. 3, p. 65-74, 2009.

YOON, S. Y. Is gender inequality a barrier to realizing fertility intentions? Fertility aspirations and realizations in South Korea. Asian Population Studies, v. 12, n. 2, p. 203-219, 2016.

Downloads

Publicado

2025-08-13

Como Citar

Leocádio, V., Verona, A. P., & Wajnman, S. (2025). Associação entre Equidade de Gênero na Família e Intenções de Fecundidade: Uma Análise do Contexto Brasileiro com Machine Learning. Revista Brasileira De Estudos De População, 42, 1–33. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0299

Edição

Seção

Artigos originais