Consumo de carne e disparidades raciais/étnicas em estudo de base populacional na cidade de Campinas, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0276Palavras-chave:
Carne, Consumo alimentar, Dieta, Etnia, Produtos de origem animalResumo
O objetivo do presente estudo foi investigar o consumo de carne na população adulta residente em um município do interior de São Paulo, Campinas, segundo raça/cor da pele em dois períodos: 2008/2009 e 2014/2015, frente à lacuna na literatura sobre a temática. Assim, buscou-se avaliar a associação entre raça/cor e consumo de carne, um alimento de grande valor cultural, a partir da hipótese de que este marcador demográfico tem relevância para explicar escolhas alimentares. Trata-se de estudo transversal de base populacional, avaliando participantes do Inquérito de Saúde do Município de Campinas (ISACamp) realizado em 2008/2009 e 2014/2015, com, respectivamente. 2.354 e 1.606 indivíduos com 20 anos ou mais de idade. Os dados de consumo alimentar foram coletados pelo método recordatório alimentar de 24 horas e as carnes foram classificadas de acordo com a origem animal e o tipo de processamento. Modelos de regressão linear foram executados para avaliar a associação entre consumo de carnes e variáveis sociodemográficas com nível de significância de 5%. Foi encontrado menor consumo total de carnes, carne vermelha, carne bovina e peixe entre indivíduos com cor de pele autodeclarada preta em comparação àqueles com cor de pele autodeclarada branca. O consumo de carne vermelha variou de 109,4g a 157,9g em 2008/2009 e de 102,1g a 125,1g em 2014/2015 entre os grupos, ficando acima da recomendação em ambos os períodos. O Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer orienta o consumo de carne vermelha entre 50 e 71,4g/dia; assim, esses achados reforçam a importância de estudos que investiguem o impacto da etnia sobre o consumo alimentar, já que as disparidades raciais podem estar na origem do consumo insuficiente ou em excesso de determinados tipos de carne, sendo que a compreensão dos fatores associados ao consumo dos tipos de carnes é relevante para a adoção de ações de saúde voltadas à ingestão alimentar adequada.
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