As desigualdades da reprodução: homens e mulheres no trabalho doméstico não remunerado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0204

Palavras-chave:

Divisão sexual do trabalho, Trabalho doméstico, Cuidados

Resumo

O artigo busca refletir sobre a realização do trabalho doméstico não remunerado por mulheres e homens na faixa etária de 25 a 49 anos, utilizando informações provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2019. A análise dos dados se baseia na avaliação das taxas de realização de afazeres domésticos (TRAD) e de cuidados (TRCD) e dos tempos médio social (TMS) e participante (TMP). Os resultados apontam que o trabalho doméstico não remunerado permanece nos moldes de um modelo de divisão sexual do trabalho complementar e assimétrico. As taxas de realização de afazeres domésticos e de cuidados mostram participação expressiva dos homens, ainda que inferior à das mulheres, contudo, mais concentrados em atividades de suporte e de interações externas ao domicílio. Os diferenciais observados no tempo gasto em trabalho doméstico não remunerado revelam que essa participação masculina continua não se refletindo em redução dos tempos femininos com essas atividades, o que aponta a persistência das desigualdades de gênero no trabalho doméstico não remunerado nas idades de maior pressão pelas demandas da vida reprodutiva e produtiva.

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Biografia do Autor

Bruna Carolina Garcia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas-SP, Brasil

Bruna Carolina Garcia é mestre em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp) e bacharel em Economia Empresarial e Controladoria − Habilitação em Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP).

Glaucia dos Santos Marcondes, Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas-SP, Brasil

Glaucia dos Santos Marcondes tem Pós-Doutorado no Centro de Recursos Humanos, da Universidade Federal da Bahia (CRH/UFBA), é doutora em Demografia e mestre em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó (Nepo/Unicamp) e docente do Programa de Pós-Graduação em Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/Unicamp).

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Publicado

2022-05-13

Como Citar

Garcia, B. C., & Marcondes, G. dos S. (2022). As desigualdades da reprodução: homens e mulheres no trabalho doméstico não remunerado. Revista Brasileira De Estudos De População, 39, 1–23. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0204

Edição

Seção

Artigos originais