Estrutura social e dinâmica da violência: determinantes sociais dos homicídios intencionais nas microrregiões brasileiras

a multivariate quantitative analysis of Brazilian microregions, between 1996 and 2019

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0240

Palavras-chave:

Homicídio, Violência, Determinantes sociais, Fatores sociodemográficos, Análise de regressão

Resumo

Teorias macrossociológicas da violência criminal predizem que a taxa de crimes violentos, sobretudo homicídios intencionais, aumenta em resposta às estruturas e aos processos sociais que fortalecem as motivações violentas ou enfraquecem os controles sociais da violência. Para testar estas hipóteses, utilizamos diversos modelos de regressão bi e multivariada com dados em painel e variáveis construídas com dados demográficos e de mortalidade, de acordo com a relevância teórica, para verificar se o uso de psicoativos, o acesso a armas de fogo, as estruturas sociodemográficas (crescimento e densidade populacional e proporção de homens jovens) e a prevalência da exclusão socioeconômica aumentam a taxa de homicídios intencionais nas microrregiões brasileiras, entre 1996 e 2019. A maior parte dos resultados corrobora as hipóteses de maneira significativa. Porém, o fator mais poderoso foi a taxa de homicídios do ano anterior, revelando uma tendência endógena de retroalimentação da violência no curto e médio prazos, o que pode levar à acumulação dos efeitos dos fatores estruturais dos homicídios intencionais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Matheus Boni Bittencourt, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS, Brasil

Matheus Boni Bittencourt é doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Analista de políticas públicas da Secretaria de Gestão e Recursos Humanos do Estado do Espírito Santo (Seger/ES) e membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-UFRGS) e do Núcleo de Pesquisa Inovação e Planejamento Socioeconômico (Nupla-Ufes).

Alex Niche Teixeira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS, Brasil

Alex Niche Teixeira é doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor efetivo da UFRGS e membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-UFRGS).

Referências

AGNEW, R. Strain, economic status, and crime. In: PIQUERO, A. (Ed). The handbook of criminological theory. Wiley & Sons; Blackwell, 2016. p. 209-229.

CONLEY, D.; SPRINGER, K. W. Welfare state and infant mortality. American Journal of Sociology, v. 107, n. 3, p. 768-807, 2001. Disponível em: https://www.journals.uchicago.edu/doi/abs/10.1086/338781 Acesso em: 27 out. 2021.

AGNEW, R.; BREZINA, T. General strain theory. In: KROHN, M.; HENDRIX, N.; PENLY HALL, G.; LIZOTTE, A. (Ed.). Handbook on crime and deviance. Handbooks of sociology and social research. Springer, Cham, 2019. p. 145-160. https://doi.org/10.1007/978-3-030-20779-3_8

AGUIAR, M. M. Invisibilidade relativa: as grandes cidades de Simmel a partir de Howard Woolston e Robert Park. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, v. 24, n. 1, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.12957/irei.2022.68335 Acesso em: 13 fev. 2023.

ALMEIDA, W. S.; SZWARCWALD, C. L. Mortalidade infantil nos municípios brasileiros: uma proposta de método de estimação. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 14, p. 331-342, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbsmi/a/NrV7KBxmdjngRhRhQ9RHMHv/?lang=pt&format=html Acesso em: 27 out. 2021.

ANSON, J.; BARTL, W.; KULCZYCKI, A. Roots and fruits of population growth and social structures: demographic and sociological vistas. In: ANSON, J.; BARTL, W.; KULCZYCKI, A. Studies in the sociology of population. Springer, Cham, 2019. p. 1-24.

ANTUNES, M. J. L.; MANASSE, M. Social disorganization and strain: macro and micro implications for youth violence. Journal of Research in Crime and Delinquency, v. 59, n. 1, p. 82-127, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/00224278211004667 Acesso em: 13 fev. 2023.

AZEVEDO, R. G. de; SINHORETTO, J.; SILVESTRE, G. Encarceramento e desencarceramento no Brasil: a audiência de custódia como espaço de disputa. Sociologias, ano. 24, n. 59, p. 264-294, 2022. Disponível: em: https://doi.org/10.1590/15174522-103835 Acesso em: 27 mar. 2023.

BACULI, A. L. et al. Uma nota sobre homicídios e a entrada de armas legais nas regiões brasileiras. Revista Brasileira de Economia, v. 75, n. 1, p. 1-14, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.5935/0034-7140.20210001 Acesso em 01 dez. 2022.

BEATO FILHO, C. C. et al. Conglomerados de homicídios e o tráfico de drogas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, de 1995 a 1999. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, p. 1163-1171, 2001. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csp/v17n5/6324.pdf Acesso em: 17 ago. 2021.

BITTENCOURT, M. B.; TEIXEIRA, A. N. Estrutura socioeconômica e homicídios intencionais contra jovens nas metrópoles brasileiras. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 15, n. 3, p. 827-857, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.4322/dilemas.v15n3.43300 Acesso em: 01 dez. 2022.

BRAGA, A. A. et al. Firearm instrumentality: do guns make violent situations more lethal? Annual Review of Criminology, v. 4, p. 147-164, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev-criminol-061020-021528 Acesso em: 13 fev. 2023.

BRAZ, S. G. C.; RAIHER, A. P. Redução da mortalidade infantil e cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 4 no Brasil. Economía, Sociedad y Territorio, v. 22, n. 68, p. 265-295, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.22136/est20221672 Acesso em: 01 dez. 2022.

CARVALHO, I. M. M. Segregação, vulnerabilidade e desigualdades sociais e urbanas. Civitas − Revista de Ciências Sociais, v. 20, n. 2, p. 270-286, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2020.2.28393 Acesso em: 13 fev. 2023.

CERQUEIRA, D. R. de C. et al. Atlas da violência 2019. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 2019.

CHOUHY, C. Social support and crime. In: KROHN, M.; HENDRIX, N.; PENLY HALL, G.; LIZOTTE, A. (Ed.). Handbook on crime and deviance. Handbooks of sociology and social research. Springer, Cham, 2019. https://doi.org/10.1007/978-3-030-20779-3_12.

COOK, P. J.; POLLACK, H. A.; WHITE, K. The last link: from gun acquisition to criminal use. Journal of Urban Health, v. 96, n. 5, p. 784-791, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007%2Fs11524-019-00358-0 Acesso em: 13 fev. 2023.

CRUZ, J. C. et al. Perfil epidemiológico e caracterização das lesões em vítimas de homicídios: revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 8, e8434, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.25248/reas.e8434.2021 Acesso em: 01 dez. 2022.

CURRIE, E. The market economy and crime. In: CULLEN, F. T.; WILCOX, P. (Ed.). The Oxford handbook of criminological theory. Oxford: Oxford University Press, 2015. p. 424-439.

DANTAS, R. F. Violência e vulnerabilidades urbanas: teoria da ambiência restritiva. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 15, n. 1, p. 277-302, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.4322/dilemas.v15n1.40294 Acesso em: 13 fev. 2023.

GARCIA, L. P.; SANTANA, L. R. Evolução das desigualdades socioeconômicas na mortalidade infantil no Brasil, 1993-2008. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p. 3717-3728, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/5StGp3rjrhp9wKcMgFby5xf/?format=pdf⟨=pt Acesso em: 27 out. 2021.

GOLDSTEIN, P. J. The drugs/violence nexus: a tripartite conceptual framework. Journal of Drug Issues, v. 15, n. 4, p. 493-506, 1985. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/002204268501500406 Acesso em: 17 ago. 2021.

HEPBURN, L. M.; HEMENWAY, D. Firearm availability and homicide: a review of the literature. Aggression and Violent Behavior, v. 9, n. 4, p. 417-440, 2004. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1359178903000442 Acesso em: 27 out. 2021.

IBGE − Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Divisão do Brasil em mesorregiões e microrregiões geográficas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=22269&view=detalhes Acesso em: 01 jun. 2022.

JONES, R. W.; PRIDEMORE, W. A. Toward an integrated multilevel theory of crime at place: routine activities, social disorganization, and the law of crime concentration. Journal of Quantitative Criminology, v. 35, n. 3, p. 543-572, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10940-018-9397-6 Acesso em: 01 dez. 2022.

KUBRIN, C. E.; MIODUSZEWSKI, M. D. Social disorganization theory: past, present and future. In: KROHN, M.; HENDRIX, N.; PENLY HALL, G.; LIZOTTE, A. (Ed.). Handbook on crime and deviance. Springer, Cham, 2019. p. 197-211.

KUBRIN, C. E.; WO, J. C. Social disorganization theory’s greatest challenge: linking structural characteristics to crime in socially disorganized communities. In: PIQUERO, A. (Ed). The handbook of criminological theory. Wiley & Sons; Blackwell, 2016. p. 121-136.

LYNCH, M. J.; BOGGESS, L. N. A radical grounding for social disorganization theory: a political economic investigation of the causes of poverty, inequality and crime in urban areas. Radical Criminology, n. 6, p. 11-69, 2016. Disponível em: http://journal.radicalcriminology.org/index.php/rc/article/view/52/html Acesso em: 21 set. 2021.

MCLEAN, C. et al. Exploring the relationship between neoliberalism and homicide: a cross-national perspective. International Journal of Sociology, v. 49, n. 1, p 53-76, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1080/00207659.2018.1560981 Acesso em: 13 fev. 2023.

MESSNER, S. F.; RAFFALOVICH, L. E.; SUTTON, G. M. Poverty, infant mortality, and homicide rates in cross-national perspective: assessments of criterion and construct validity. Criminology, v. 48, n. 2, p. 509-537, 2010. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1745-9125.2010.00194.x Acesso em: 27 out. 2021.

MISSE, M. The puzzle of social accumulation of violence in Brazil: some remarks. Journal of Illicit Economies and Development, v. 1, n. 2, p. 177-182, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.31389/jied.32 Acesso em: 17 ago. 2021.

MISSE, M. La acumulación social de la violencia en Río de Janeiro y en Brasil: algunas reflexiones. Co-herencia, v. 7, n. 13, p. 19-40, 2010. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-58872010000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 07 jan. 2018.

PAMPLONA, R. S.; BARROS, B. W. As masculinidades à brasileira: um balanço das produções sobre o tema nos periódicos científicos. BIB − Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 95, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.17666/bib9505/2021 Acesso em: 27 mar. 2023.

PIMENTA, M. de M. Violência e vulnerabilidade social. In: TAVARES DOS SANTOS, J. V.; MADEIRA, L. M. Segurança cidadã. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014. p. 217-248.

PRIDEMORE, W. A. Poverty matters: a reassessment of the inequality-homicide relationship in cross-national studies. The British Journal of Criminology, v. 51, n. 5, p. 739-772, 2011. Disponível em: https://academic.oup.com/bjc/article-abstract/51/5/739/515897 Acesso em: 27 out. 2021.

PRIDEMORE, W. A. A methodological addition to the cross national empirical literature on social structure and homicide: a first test of the poverty homicide thesis. Criminology, v. 46, n. 1, p. 133-154, 2008. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1745-9125.2008.00106.x Acesso em: 27 out. 2021.

RATTON, J. L.; DAUDELIN, J. Mercado de drogas, guerra e paz no Recife. Tempo Social, v. 29, n. 2, p. 115-134, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/JhdgztMLwMWj73b4Q6sYR9z/abstract/?lang=pt Acesso em: 27 out. 2021.

RIBEIRO, L. M. L.; COUTO, V. Assis (Coord.). Mensurando o tempo do processo de homicídio doloso em cinco capitais. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Reforma do Judiciário, 2015.

RODRIGUES, A. L. Ingovernabilidade metropolitana e segregação espacial: receita para a explosão da violência. In: FURTADO, B. A.;

KRAUSE, C.; FRANÇA, K. C. B. de. Território metropolitano, políticas municipais. Brasília: Ipea, 2013. p. 53-82.

RODRIGUES, J. S.; BARROS, J. P. P. Familiares de jovens assassinados: uma revisão sistemática de literatura. Revista de Psicologia, v. 10, n. 2, p. 245-262, 2019. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8085859 Acesso em: 23 mar. 2023.

ROGERS, M. L.; PRIDEMORE, W. A. A review and analysis of the impact of homicide measurement on cross-national research. Annual Review of Criminology, v. 6, p. 447-470, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev-criminol-030521-102909 Acesso em: 15 fev. 2023.

SAPORI, L. F. Mercado das drogas ilícitas e homicídios no Brasil: um estudo comparativo das cidades de Belo Horizonte (MG) e Maceió (AL). Dados, v. 63, n. 4, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/dados.2020.63.4.223 Acesso em: 01 dez. 2022.

SERRANO-LÓPEZ, M. Violencia y corrupción como estratégias de maximización en mercados ilegales: el caso de la coca. Cuadernos de Economía, v. 39, n. 81, p. 949-974, 2020. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-47722020000300949&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 13 nov. 2021.

SOARES, A. M. et al. Melhoria da classificação das causas externas inespecíficas de mortalidade baseada na investigação do óbito no Brasil em 2017. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 22, supl. 3, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720190011.supl.3 Acesso em: 29 jun. 2022.

SOARES, G. A. D. Não matarás: desenvolvimento, desigualdade e homicídios. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

SOARES, M.; SABOYA, R. T. de. Fatores espaciais da ocorrência criminal: modelo estruturador para a análise de evidências empíricas. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 11, e20170236, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2175-3369.011.001.AO10 Acesso em: 01 dez. 2022.

SOUTH, S. J.; MESSNER, S. F. Crime and demography: multiple linkages, reciprocal relations. Annual Review of Sociology, v. 26, n. 1, p. 83-106, 2000. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.soc.26.1.83 Acesso em: 27 out. 2021.

SOUZA, T. O. de; SOUZA, E. R. de; PINTO, L. W. Análise da qualidade da informação sobre mortalidade por homicídio a partir dos óbitos com intenção indeterminada. Bahia, Brasil, 2002-2013. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 22, e190005, 2019. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/rbepid/2019.v22/e190005/pt/. Acesso em: 27 out. 2021.

TAVARES, J. M. da S.; PEREIRA NETO, C. Aspectos do crescimento populacional: estimativas e uso de indicadores sociodemográficos. Formação, v. 27, n. 50, p. 3-36, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.33081/formacao.v27i50.5928 Acesso em: 01 dez. 2022.

Downloads

Publicado

2023-05-12

Como Citar

Boni Bittencourt, M., & Niche Teixeira, A. (2023). Estrutura social e dinâmica da violência: determinantes sociais dos homicídios intencionais nas microrregiões brasileiras: a multivariate quantitative analysis of Brazilian microregions, between 1996 and 2019. Revista Brasileira De Estudos De População, 40, 1–25. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0240

Edição

Seção

Artigos originais