Violências relatadas por solicitantes de refúgio atendidos na Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro de 2010 a 2017

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0232

Palavras-chave:

Violência, Tortura, Refúgio, Prevalência, Asilo, Deslocamento forçado, Migração

Resumo

Estima-se que no mundo, atualmente, haja 89,3 milhões de pessoas em deslocamentos forçados, incluindo 27,1 milhões de refugiados. Entre as razões para essas migrações forçadas estão a tortura e outras formas de violência, embora a prevalência de violências antes e durante a migração ainda seja pouco conhecida. O objetivo deste estudo é analisar a prevalência e alguns fatores associados às violências relatadas por solicitantes de refúgio no Rio de Janeiro. Foram coletados dados preenchidos nos formulários de solicitação de refúgio do Comitê Nacional para Refugiados de 2010 a 2017 e em entrevistas adicionais conduzidas na Cáritas Arquiocesana-RJ. Foram incluídos 1.546 solicitantes de refúgio com idade mediana de 30 anos (faixa 15-72 anos), dos quais 65% eram homens. Um terço informou ter sofrido violência antes de chegar ao Brasil, com chances de violência relatada entre 20 e 40 vezes maiores entre migrantes oriundos de Paquistão, Congo, Colômbia, República Democrática do Congo e Guiné. Violência física/tortura, ameaça e violência psicológica foram as mais frequentes (relatadas por 10%, 7% e 6% da população estudada, respectivamente). Entre as mulheres, a violência sexual foi a modalidade mais frequente (9%). Conclui-se que a história de violência entre os solicitantes de refúgio no Brasil é frequente, em particular para alguns grupos nacionais, aspecto a ser considerado no acolhimento e na prestação de serviços a essa população em situação de extrema vulnerabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Raquel Proença, Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Raquel Proença é PhD em saúde coletiva pelo Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Analista de vigilância em saúde do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Município do Rio de Janeiro (CIEVS Rio).

João Roberto Cavalcante, Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), Rio de Janeiro-RJ, Brasil

João Roberto Cavalcante é doutorando e mestre em saúde coletiva pelo Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ).

Anete Trajman, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Anete Trajman é PhD, médica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora titular de Clínica Médica na UFRJ.

Eduardo Faerstein, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Eduardo Faerstein é PhD, médico formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor titular de Epidemiologia da UERJ.

Referências

ABU SUHAIBAN, H.; GRASSER, L. R.; JAVANBAKHT, A. Mental health of refugees and torture survivors: a critical review of prevalence, predictors, and integrated care. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 16, n. 13, 28 jun. 2019.

ACNUR. Direitos e deveres dos solicitantes de refúgio no Brasil. Brasília, 2010.

ACNUR. Declaração sobre a situação na Ucrânia. 24 fev. 2022a. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2022/02/24/declaracao-sobre-a-situacao-na-ucrania-atribuida-ao-alto-comissario-da-onu-para-refugiados-filippo-grandi/. Acesso em: 27 fev. 2022.

ACNUR. ACNUR, OIM e Cáritas Rio parabenizam Prefeitura do Rio pela criação do comitê para atenção a pessoas refugiadas, imigrantes e apátridas. 15 fev. 2022b. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2022/02/15/acnur-oim-e-caritas-rio-parabenizam-prefeitura-do-rio-pela-criacao-do-comite-para-atencao-a-pessoas-refugiadas-imigrantes-e-apatridas/. Acesso em: 7 nov. 2022.

AL QUTOB, M. F. WHO and the refugee crisis in Jordan and beyond. The Lancet Global Health, v. 4, n. 5, e304, May 2016.

AMOWITZ, L. L. Prevalence of war-related sexual violence and other human rights abuses among internally displaced persons in Sierra Leone. JAMA, v. 287, n. 4, p. 513-521, Jan. 2002.

ARAUJO, J. D. O. et al. Prevalence of sexual violence among refugees: a systematic review. Revista de Saúde Pública, v. 53, set. 2019.

BEN FARHAT, J. et al. Syrian refugees in Greece: experience with violence, mental health status, and access to information during the journey and while in Greece. BMC Medicine, v. 16, n. 1, dez. 2018.

BUHMANN, C. B. Traumatized refugees: morbidity, treatment and predictors of outcome. Danish Medical Journal, v. 61, n. 8, B4871, ago. 2014.

BULIK, K. J. D.; COLUCCI, E. Refugees, resettlement experiences and mental health: a systematic review of case studies. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 68, n. 2, p. 121-132, jun. 2019.

CONARE. Resolução Normativa n. 01, de 27 de outubro de 1998. Brasília, 1998. Disponível em: https://www.justica.gov.br/seus-direitos/refugio/anexos/resolucao-normativa-n-01-do-conare-revogada-pela-resolucao-normativa-n-18.pdf Acesso em: 26 mar. 2021

CONARE. Renovar Protocolo de Refúgio. Brasília, s.d. Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/seus-direitos/refugio/servicos/renovar-protocolo-de-refugio Acesso em: 29 set. 2022.

CRAIG, T.; JAJUA, P. M.; WARFA, N. Mental health care needs of refugees. Psychiatry, v. 8, n. 9, p. 351-354, Sep. 2009.

DUFFY, R. M. et al. Demographic characteristics of survivors of torture presenting for treatment to a national centre for survivors of torture in Ireland (2001-2012). Irish Journal of Psychological Medicine, v. 34, n. 2, p. 111-116, Jun. 2017.

ELLSBERG, M. et al. Intimate partner violence and women’s physical and mental health in the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence: an observational study. The Lancet, v. 371, n. 9619, p. 1165-1172, Apr. 2008.

FANG, M. L. et al. Experiencing ‘pathologized presence and normalized absence’; understanding health related experiences and access to health care among Iraqi and Somali asylum seekers, refugees and persons without legal status. BMC Public Health, v. 15, n. 1, dez. 2015.

FRANÇA, I. L. “Refugiados LGBTI”: direitos e narrativas entrecruzando gênero, sexualidade e violência. Cadernos Pagu, n. 50, 2017.

FRANQUEIRO, N. Diásporas contemporâneas: as experiências de refugiados da violência e imigrantes econômicos em Uberlândia/MG. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2020.

GASSEER, N. A. et al. Status of women and infants in complex humanitarian emergencies. Journal of Midwifery & Women’s Health, v. 49, n. S1, p. 7-13, 8 jul. 2004.

GOESSMANN, K. et al. The contribution of mental health and gender attitudes to intimate partner violence in the context of war and displacement: evidence from a multi-informant couple survey in Iraq. Social Science & Medicine, v. 237, e112457, Sep. 2019.

HERRMAN, H. Sustainable development goals and the mental health of resettled refugee women: a role for international organizations. Frontiers in Psychiatry, v. 10, Aug. 2019.

HUMAN RIGTHS WATCH. Women’s human rights. World Report 2001. New York, 2001. Disponível em: https://www.hrw.org/legacy/wr2k1/. Acesso em: 26 jun. 2020.

JUNGER, G. et al. (org.). Refúgio em Números. 7. ed. Série Migrações. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública/ Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de Imigração Laboral. Brasília: OBMigra, 2022. Disponível em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/OBMigra_2022/REF%C3%9AGIO_EM_N%C3%9AMEROS/Refu%CC%81gio_em_Nu%CC%81meros_-_27-06.pdf Acesso em: 1 jul. 2022.

KALT, A. et al. Asylum seekers, violence and health: a systematic review of research in high-income host countries. American Journal of Public Health, v. 103, n. 3, p. e30-e42, Mar. 2013.

KHAWAJA, M. Prevalence of wife beating in Jordanian refugee camps: reports by men and women. Journal of Epidemiology & Community Health, v. 59, n. 10, p. 840-841, Oct. 2005.

KRUG, E. et al. World report on violence and health. Geneva: World Health Organization, 2002.

LIMA, J. B. B. Refúgio no Brasil: caracterização dos perfis sociodemográficos dos refugiados (1998-2014). Brasília: Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2017.

MARSHALL, G. N. Mental health of Cambodian refugees 2 decades after resettlement in the United States. JAMA, v. 294, n. 5, p. 571-579, Aug. 2005.

MASCARENHAS, M. D. M. et al. Prevalence of exposure to violence among adults - Brazil, 2019. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 24, suppl 2, e210019, 2021.

NAPOLITANO, F. et al. Violence experience among immigrants and refugees: a cross-sectional study in Italy. BioMed Research International, v. 2018, p. 1-8, Sep. 2018.

NISSEN, A. et al. Cohort profile: Resettlement in Uprooted Groups Explored (REFUGE) - a longitudinal study of mental health and integration in adult refugees from Syria resettled in Norway between 2015 and 2017. BMJ Open, v. 10, n. 7, e036101, Jul. 2020.

OPAS. Módulos de princípios de epidemiologia para o controle de enfermidades. Módulo 3: medida das condições de saúde e doença na população. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde, 2010. 7 volumes.

PRIEBE, S.; GIACCO, D.; EL-NAGIB, R. Public health aspects of mental health among migrants and refugees: a review of the evidence on mental health care for refugees, asylum seekers, and irregular migrants in the WHO European Region. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe, 2016 (Health Evidence Network - HEN Synthesis Report 47).

REESE MASTERSON, A. et al. Assessment of reproductive health and violence against women among displaced Syrians in Lebanon. BMC Women’s Health, v. 14, n. 1, Dec. 2014.

ROSA, M. D. Migrantes, imigrantes e refugiados: a clínica do traumático. Revista de Cultura e Extensão USP, v. 7, p. 67-76, 2012.

SCHMID, P. C. Saúde mental e restrição de liberdade: relato de experiência como médica psiquiatra em centro de detenção de refugiados. Saúde em Debate, v. 43, n. 121, p. 626-635, 2019.

SILVA, G. et al. Refúgio em Números. 5. ed. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública/ Comitê Nacional para os Refugiados. Brasília: OBMigra, 2020. Disponível em: https://www.justica.gov.br/seus-direitos/refugio/refugio-em-numeros.

STARK, L.; AGER, A. A Systematic review of prevalence studies of gender-based violence in complex emergencies. Trauma, Violence, & Abuse, v. 12, n. 3, p. 127-134, jul. 2011.

STEEL, Z. et al. Association of torture and other potentially traumatic events with mental health outcomes among populations exposed to mass conflict and displacement: a systematic review and meta-analysis. JAMA, v. 302, n. 5, p. 537-549, Aug. 2009.

UN. UN News. Disponível em: https://news.un.org/pt/home Acesso em: 7 out. 2022.

UNHCR. Global trends forced displacement in 2021: statistics and demographics section. Copenhagen, Denmark: UNHCR Global Data Service, 2022. Disponível em: https://www.unhcr.org/refugee-statistics Acesso em: 1 jul. 2022.

USTA, J.; FARVER, J. A. M.; ZEIN, L. Women, war, and violence: surviving the experience. Journal of Women’s Health, v. 17, n. 5, p. 793-804, jun. 2008.

VETORAZZO, L. Conflito na Ucrânia já deixou 368 mil refugiados, diz ONU. Veja, 27. fev. 2022. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/conflito-na-ucrania-ja-deixou-368-mil-refugiados-diz-onu/amp/. Acesso em: 27 fev. 2022.

WILLIAMS, A. C. de C.; AMRIS, K. Pain from torture. Pain, v. 133, n. 1, p. 5-8, Dec. 2007.

Downloads

Publicado

2022-01-27

Como Citar

Proença, R., Roberto Cavalcante, J., Trajman, A., & Faerstein, E. (2022). Violências relatadas por solicitantes de refúgio atendidos na Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro de 2010 a 2017. Revista Brasileira De Estudos De População, 40, 1–17. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0232

Edição

Seção

Artigos originais