O paradoxo da tábua de sobrevivência: o Brasil já o superou?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0179

Palavras-chave:

Tábua de sobrevivência, Expectativa de vida, Mortalidade infantil, Desigualdades em saúde, Desigualdades regionais, Decomposição

Resumo

Idealmente, a expectativa de vida deveria ser uma função decrescente da idade. Quando tal fato não é observado, a situação é conhecida como o paradoxo da tábua de mortalidade. Este artigo investigou o momento (e métricas de saúde neste momento) em que o Brasil e suas unidades da federação (UF) superaram (ou são esperados superar) este paradoxo. Os dados foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e continham 3.416 tábuas de mortalidade abreviadas e específicas por sexo, de 2000 até 2060. No nível nacional, mulheres e homens superaram o paradoxo em 2016 e 2018, respectivamente. Contudo, quando foram examinadas as UFs separadamente, grande heterogeneidade foi observada. Pela análise de decomposição da mudança no tempo da diferença entre a expectativa de vida ao nascer e na idade de um ano, observamos que o Brasil e a maioria de suas UFs esperam ter ambas as mudanças decrescentes ao longo do tempo e a mudança total é esperada ser decrescente e maior do que zero. Entretanto, para alguns estados do Nordeste, a mudança total é esperada passar de um valor positivo para um negativo; e para dois estados do Norte a mudança total esperada não deve ser nem crescente nem decrescente. Em uma perspectiva de planejamento público, entendemos que alcançar o balanceamento das tábuas de mortalidade é um objetivo a ser perseguido, especialmente porque ter uma tábua desbalanceada significa que a expectativa de vida ao nascer ainda é fortemente influenciada pelos altos níveis de mortalidade infantil. Assim, este conhecimento pode ajudar planejadores a definirem estratégias apropriadas para acelerar o processo de balanceamento e reverter cenários de desigualdade.

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Biografia do Autor

Filipe Costa de Souza, Universidade Federal de Pernambuco

Professor Associado do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Doutor em Economica pelo PIMES/UFPE.

Endereço: Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais
Avenida dos Funcionários, S/N – CEP 50670-901
Cidade Universitária – Recife – PE – Brasil

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Publicado

2021-12-13

Como Citar

Souza, F. C. de. (2021). O paradoxo da tábua de sobrevivência: o Brasil já o superou?. Revista Brasileira De Estudos De População, 38, 1–23. https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0179

Edição

Seção

Artigos originais