Envelhecimento populacional e gastos com saúde: uma análise das transferências intergeracionais e intrageracionais na saúde suplementar brasileira

Autores

  • Samara Lauar Santos Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais
  • Cássio Turra
  • Kenya Noronha

DOI:

https://doi.org/10.20947/s102-3098a0062

Palavras-chave:

Envelhecimento populacional, Gastos com saúde, Saúde suplementar brasileira, Transferências Intergeracionais, Transferências Intrageracionais

Resumo

O modelo de precificação de planos de saúde no Brasil prevê a imposição de limites de variação das mensalidades por faixa etária, possibilitando a transferência de recursos dos mais jovens, que têm menor risco de utilização, para aqueles em idades mais avançadas. O aumento da proporção de idosos nas carteiras dos planos de saúde poderá inviabilizar as transferências intergeracionais e a atual estrutura de precificação. O objetivo deste artigo é estimar a magnitude das transferências intergeracionais (entre diferentes grupos de idade) e intrageracionais (em um mesmo grupo de idade) na saúde suplementar brasileira, por meio da análise de dados de uma amostra representativa de operadoras de planos de saúde. Segundo os resultados encontrados, os saldos das transferências intergeracionais foram positivos e ocorrem dos mais jovens para beneficiários de 66 anos ou mais. Os resultados mostram ainda a ocorrência de transferências intrageracionais em duas das faixas etárias definidas pela legislação vigente: 0 a 18 anos e 59 anos ou mais. Finalmente, o exercício de retroprojeção demonstrou que nos últimos 15 anos a sinistralidade nos planos individuais apresentou constante aumento, indicando risco crescente de insuficiência das mensalidades para fins de custeio das despesas no médio prazo, em razão do envelhecimento populacional.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Samara Lauar Santos, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais

Atuária graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Mestre em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora substituta do Departamento de Finanças e Contabilidade (DFC) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

Cássio Turra

Professor Associado - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), Departamento de Demografia.

Kenya Noronha

Professora Adjunta - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), Departamento de Economia.

Referências

ALVES, S. L. Estimando seleção adversa em planos de saúde. EconomiA – Selecta, Brasília, v. 5, n. 3, p. 253-283, dez. 2004

ANDRADE, M. V. Financiamento do setor de saúde suplementar no Brasil: uma investigação empírica a partir dos dados da PNAD/1998. In: WERNECK, A. J.; MONTONE J. (Org.). Regulação e saúde: documentos técnicos de apoio ao Fórum de Saúde Suplementar de 2003. 1. ed. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde/Agência Nacional de Saúde Suplementar, v. 3, 2003. p. 249-332.

ANDRADE, M. V. et al. Indicadores de gastos com serviços médicos no setor de saúde suplementar no Brasil: o caso Sabesprev. Belo Horizonte: Cedeplar/Face/UFMG, 2010 (Texto para discussão, 403).

ANDRADE, M. V.; NORONHA, K.; SA, E. B.; PIOLA, S.; VIEIRA, F. S.; VIEIRA, R. S.; BENEVIDES, R. Desafios do sistema de saúde brasileiro. In: NEGRI, J. A. de; ARAÚJO, B. C.; BACELETTE, R. (Org.). Desafios da nação: artigos de apoio. 1. ed. Brasília: Ipea, 2018. v. 2, p. 357-414.

ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar. Integração do setor de saúde suplementar ao sistema de saúde brasileiro (3 anos da Lei 9.656). Palestra proferida no Conselho Nacional de

Saúde. Rio de Janeiro, jul. 2001

_________. RN Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças. Nota técnica. Rio de Janeiro, 2011.

_________. Anuário – Aspectos econômico-financeiros das operadoras de planos de saúde. Rio de Janeiro, 2015.

_________. Dados consolidados saúde suplementar. Rio de Janeiro: Agência Nacional de Saúde, 2018a.

_________. Reajustes de preços de planos de saúde. Agência Nacional de Saúde, 2018b. Disponível em: http://www.ans.gov.br/planos-de-saude-e-operadoras/espaco-do-consumidor/reajustes-de-precos-de-planos-de-saude. Acesso em: 10 set. /2018.

_________. Resolução da Diretoria Colegiada RDC n. 28, de 26 de junho de 2000. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao

&task=TextoLei&format=raw&id=Mzg3.

_________. Resolução Normativa n. 63, de 22 de dezembro de 2003. Rio d Janeiro, 2003.Disponível em: http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao

&task=TextoLei&format=raw&id=NzQ4.

AZEVEDO, P. F. et al. A cadeia de saúde suplementar no Brasil: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas. São Paulo: Insper – Centro de Estudos em Negócios, 2016 (White

Paper, n. 001).

BAUMANN, F.; MEIER, V.; WERDING, M. Transferable ageing provisions in individual health insurance contracts. CESifo Group Munich, 2004 (CESifo Working Paper, n. 1116).

BERENSTEIN, C. K. O perfil etário dos custos de internação na saúde pública no Brasil: uma análise para as capitais das regiões metropolitanas do Brasil em 2000. Dissertação (Mestrado em Demografia) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), 2005.

BRITO et al. A transição demográfica e as políticas públicas no Brasil: crescimento demográfico, transição da estrutura etária e migrações internacionais. Belo Horizonte, 2007.

CARVALHO, J. A M de. Crescimento populacional e estrutura demográfica no Brasil. Belo Horizonte: Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), 2004 (Texto para Discussão, n. 227).

CARVALHO, J. A M. de; GARCIA, R. A. O envelhecimento da população brasileira: um enforque demográfico. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 3, p. 725-733, 2003.

CARVALHO, J. A M. de; SAWYER, D. O.; RODRIGUES, R. D. Introdução a alguns conceitos básicos e medidas em demografia. 2. ed. São Paulo: Associação Brasileira de Estudos Populacionais, 1998.

CASTRO NETO, F. C.; DE OLIVEIRA, J. C. C. Saúde suplementar no Brasil: estudo sobre as correlações de índices econômico-financeiros das operadoras de planos de saúde. Revista Diálogos Acadêmicos, v. 1, n. 2, p. 138-149, 2012.

COUTO, R. C.; PEDROSA, T. G. M.; ROSA, M. B. Erros acontecem: a força da transparência dos eventos adversos assistenciais em pacientes hospitalizados. Belo Horizonte: IESS – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, 2016.

CUTLER, D. M.; MEARA, E. The medical costs of the young and old: a forty year perspective. In: WISE, D. A. (Ed.). Frontiers in the economics of aging. Chicago, IL: University of Chicago Press, 1998. p. 215-246.

CZERESNIA, D. Ações de promoção à saúde e prevenção de doenças: o papel da ANS. In: WERNECK, A. J.; MONTONE J. (Org.). Regulação e saúde: documentos técnicos de apoio ao Forúm de Saúde Suplementar de 2003. 1. ed. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde/Agência Nacional de Saúde Suplementar, v. 3, 2003.

FAUSTO, M. C. R.; MATTA, G. C. Atenção primária à saúde: histórico e perspectivas. Modelos de atenção e a saúde da família. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

FIPECAFI. Diferenciação de risco e mensalidade ou prêmio entre faixas etárias em planos e seguros de saúde. Parecer técnico: São Paulo, 2009.

GABRIELE, S. et al. Demographic factors and health expenditure profiles by age: the case of Italy. European Network of Economic Policy Research Institutes, 2005 (ENEPRI Research Report, n. 18).

GOYEN, M.; DEBATIN, J. F. Healthcare costs for new technologies. European Journal of Nuclear Medicine and Molecular Imaging, v. 36, suppl. 1, p. 139-143, 2009.

HANVORAVONGCHAI, P. Medical savings accounts: lessons learned from limited international experience. Geneva: World Health Organizations, 2002

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população do Brasil por sexo e idade: 2000-2060 – Revisão 2013. Rio de Janeiro, 2013.

IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Saúde não é o que interessa. Revista do IDEC, edição 177, p. 21-24, jun. 2013.

KEEHAN, S. et al. Age estimates in the national health accounts. Heath Care Financing Review, v. 26, n. 2, p. 1-16, 2004.

KILSZTAJN et al. Serviços de saúde, gastos e envelhecimento da população brasileira. In: XIII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS. Anais... Ouro Preto: Abep, 2002.

LANGE, R.; STEINORTH, P. Using experiences from the U.S. to implement health savings accounts in German statutory health insurance. Schmollers Jahrbuch, v. 132, n. 1, p. 27-52, 2012.

LEU, R. E.; RUTTEN, F. F. H.; BROUWER, W.; MATTER, P.; RÜTSCHI, C. The Swiss and Dutch health insurance systems: universal coverage and regulated competitive insurance markets. New York: The Commonwealth Fund, pub. n. 1220, 2009.

LUBITZ, J.; RILEY, G. F. Trends in medicare payments in the last year of life. New England Journal of Medicine, v. 328, n. 15, p. 1092-1096, 1993.

MAIA, A. C. Seleção adversa e risco moral no sistema de saúde brasileiro. Dissertação (Mestrado) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2004.

_________. Ensaios sobre a demanda no setor de saúde suplementar brasileiro. Tese (Doutorado em Economia) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2012.

MAIA, A. C.; ANDRADE, M. V.; FERES, F. L. C. Estudo longitudinal do efeito da idade e tempo até a morte em gastos com saúde. Rede de Economia Aplicada (Reap), 2012 (Working Paper 037).

MAIA, A. C.; ANDRADE, M. V.; OLIVEIRA, A. M. O risco moral no sistema de saúde suplementar brasileiro. In: XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA. Anais... João Pessoa: Anpec, 2004.

MENDES, J. Seguros de saúde vitalícios: estudo de práticas e direito comparado. Fórum –Lisboa, ano XIII, n. 27, p. 44-71, jul. 2009.

MILLER, T. Increasing longevity and medicare expenditures. Demography, v. 38, n. 2, p. 215-226, 2001.

MYRRHA, L. J. Estrutura etária brasileira: decomposição segundo variações na fecundidade e na mortalidade. Dissertação (Mestrado) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2009.

MYRRHA, L. J.; SIVIERO, P. C.; WAJNMAN, S.; TURRA, C. M. O uso das taxas de crescimento por idade para identificação das principais etapas da transição demográfica no Brasil. Belo Horizonte: Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2012 (Texto para Discussão, n. 460).

_________. A contribuição dos nascimentos e óbitos para o envelhecimento populacional no Brasil, 1950 a 2100. Revista Latino-Americana de Población, ano 11, n. 20, p. 37-54, 2017.

NUNES, A.; SOARES, F. A. R.; BASÍLIO, F. A. C. A regulação do mercado de saúde e os efeitos sobre a seleção adversa. Revista de Economia, v. 40, n. 2, p. 23-38, 2014.

OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development. Private health insurance in OECD countries. Policy Brief, September 2004.

OMRAN, A. R. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change. Milbank Memorial Fund Quaterly, v. 49, n. 4, p. 509-538, 1971.

OUCHI, Y. et al. Redefining the elderly as aged 75 years and older: proposal from the Joint Committee of Japan Gerontological Society and the Japan Geriatrics Society. Geriatrics Gerontology, v. 17, n. 7, p. 1045-1047, 2017.

PAOLUCCI. F.; SHMUELI, A. The introduction of ex-ante risk equalisation in the Australian private health insurance market: a first step. Agenda, v. 18, n. 2, p. 71-92, 2011.

PAOLUCCI, F.; STOELWINDER, J. Risk-equalisation in health insurance markets: models and international experience. Melbourne: Australian Centre for Health Research, Feb. 2011.

RAITANO, M. The impact of death-related costs on health-care expenditure: a survey. ENEPRI Research Report, n. 17, 2006.

REIS, C. S.; NORONHA, K.; WAJNMAN, S. Envelhecimento populacional e gastos com internação do SUS: uma análise realizada para o Brasil entre 2000 e 2010. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 33, n. 3, p. 591-612, 2016.

RESENDE, M.; ZEIDAN, R. Adverse selection in the health insurance market: some empirical evidence. The European Journal of Health Economics, v. 11, n. 4, p. 413-418, 2010.

RIBEIRO, M. M. Utilização de serviços de saúde no Brasil: uma investigação do padrão etário por sexo e cobertura por plano de saúde. Dissertação (Mestrado) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2005.

RICHARDSON, J.; ROBERTSON, L. Ageing and the cost of health services. West Heidelberg, Australia: Centre for Health Program Evaluation, 1999 (Working Paper, n. 90).

RODRIGUES, C. G.; AFONSO, L. E. O efeito do status de sobrevivência sobre gastos com internações hospitalares públicas no Brasil em uma perspectiva temporal. Estudos Econômicos, v. 42, n. 3, p. 489-510, 2012.

SANDERSON, W. C.; SCHERBOV, S. The characteristics approach to the measurement of population aging. Population and Development Review, v. 39, n. 4, p. 673-685, 2013.

SCHILLAERT, E.; GUILLAUME, J.; VAN DE VOORDE, C. Risk adjustment in Belgium: why and how to introduce socioeconomic variables in health plan payment. In: MACGUIRE, T. G.; VAN KLEEF, R. C. Risk adjustment, risk sharing and premium regulation in health insurance markets. London: Academic Press, 2018. p. 209-234.

SESHAMANI, M.; GRAY, A. M. Time to death expenditure: an improved model for the impact of demographic change on health care costs. Age and Ageing, v. 33, n. 6, p. 556-561, 2004.

SILVA, V. V.; LOEBEL, E. Desempenho econômico-financeiro de operadoras de planos de saúde suplementar. Revista de Gestão em Sistemas de Saúde – RGSS, v. 5. n. 2, p. 57-70, jul./dez 2016.

SOWA, P. M. et al. Private health insurance incentives in Australia: in search of cost-effective adjustments. Appl Health Econ Health Policy, v. 16, n. 1, p. 31-41, 2018.

TURRA, C. M. Os ajustes inevitáveis da transição demográfica no Brasil. In: ANDRADE, M.V.; ALBUQUERQUE, E. M. (Org.). Alternativas para uma crise de múltiplas dimensões. Belo Horizonte: Cedeplar/UFMG, 2018.

TURRA, C. M.; NORONHA, K.; ANDRADE, M. V. Estimativa do Pacto Intergeracional e seu efeito na capacidade de financiamento das OPS. Relatório final. Belo Horizonte: Ipead/Cedeplar/UFMG, 2015.

VAN DE VEN, W. P. M. M.; ELLIS, R. Risk adjustment in competitive health plan markets. In: NEWHOUSE; J. P.; CULYER, A. J. (Ed.). Handbook of health economics. Amsterdam: North-Holland, 2000.

VAN DE VEN et al. Risk adjustment and risk selection on the sickness fund insurance market in five European countries. Health Policy, v. 65, n. 1, p. 75-98, 2003.

VAN KLEEF, R. C.; EIJKENAAR, F.; VAN VLIET, R. C.; VAN DE VEN, W. P. Health plan payment in the Netherlands. In: MACGUIRE, T. G.; VAN KLEEF, R. C. Risk adjustment, risk sharing and premium regulation in health insurance markets. London: Academic Press, 2018. p. 397-429.

Downloads

Arquivos adicionais

Publicado

2018-05-16

Como Citar

Santos, S. L., Turra, C., & Noronha, K. (2018). Envelhecimento populacional e gastos com saúde: uma análise das transferências intergeracionais e intrageracionais na saúde suplementar brasileira. Revista Brasileira De Estudos De População, 35(2), 1–30. https://doi.org/10.20947/s102-3098a0062

Edição

Seção

Artigos originais